sexta-feira, 2 de maio de 2008

Freud explica!

Tô dizendo que o mundo tá de cabeça para baixo? Um tal coordenador do curso de Medicina da UFBA, Antônio Dantas, divulgou esta semana em uma entrevista para rádio local do lado de cá, a frase pérola do ano e aquela que fará com que ele responda um processo aberto pelo MP.
Por conta dos alunos de Medicina da UFBA terem tirado conceito 2 no Enade, o cabra disse que isso estava relacionado ao baixo QI dos baianos, e que esta baixa inteligência é hereditária e pode ser atestada por quem vive, relaciona-se com baianos. Defendeu sua tese ainda fundamentando-a teoricamente com conhecimentos musicais, que provevelmente não tem, disse que “o baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria”.
Para elucidar melhor esta questão vale lembrar que o filho-da-mãe é baiano, ou seja, está neste rol de baixo QI e seus descendentes também. Vale lembrar também que a capacidade de aprender atualmente não é medida apenas pelos testes de QI, aliás a medição de QI é usado no exterior com veemência e não aqui. A educação vem discutindo desde muito tempo que a inteligência é um acumulo de fatores, sobretudo de estímulos e não de herança genética apenas. Aliás, as teoria de Vigostski diz que os elementos que possibilitam a construção da aprendizagem, e a inteligência e estariam reelacionados a ela, são os fatores hitóricos-culturais e sociais. A linguagem e a memória são elementos também fundamentais para os processos de desenvolvimento do sujeito. A música, por ser um elemento histórico-cultural, tem sua participação na construção do pensar dos sujeitos, bem como é também modificada por eles. No entanto, estas condições não são determinantes e mesmo que fossem, o tal Dantas não tem conhecimento da área musical para dizer que tocar berimbau é mais fácil que violino, por exemplo. E, mesmo que tocar berimbau seja mais fácil, isto não implica dizer que quem o faz fica com menor QI ou quem o faz, o faz por ter menor QI.
Eu não sei qual moral o cara vai ter ainda no seu departamento, mas a primeira coisa que deveria ser feita é ele ser destituído do cargo, pelas mesmas pessoas que o elegeram e abandonar o ofício, se ele fosse sério e coerente, pois, mais do que a discussão que anda ocorrendo por aqui entre músicos e acadêmicos, sobre a dificuldade ou não de se tocar o berimbau de issso ser ou não um fator para construção da inteligência, ele foi RACISTA, PRECONCEITUOSO e ajudou ainda mais a segregar o que já é historicamente segregado, que é o nordestino em relação às outras regiões.
Ele devia abandornar tanto a medicina como o ofício de educador. Um médico não pode hieraquizar seus pacientes deste modo e um educador JAMAIS pode explicitar tal pensamento discriminatório, nem deveria tê-lo. Não o conheço, nem o quero fazer. Embora isso não seja inédito aqui no Brasil. Nina Rodrigues, por exemplo, embora com notório conhecimento na área médica era declaradamente racista. Hierarquizava as raças, atribuía as mazelas dos homens à raça negra, embora também fosse descendente desta.

Não é admissível que depois de uma guerra mundial, onde os elementos que a originaram foram justamente a segregação racial e a ideia de que existiam raças e culturas superiores, que em pleno século XXI alguém faça algo parecido!
Devo ressaltar contudo, que quando ele esculhambou o Olodum, por não ser música e sim barulho, embora muita gente tenha ficada revoltada lembrando da notoriedade que o Olodum tem fora do país, inclusive, ele o fez com o ardor de quem não gosta de algo. Ponro. é de seu direito. Ninguém é obrigado a gostar de música ou manifestação cultural nenhuma. Acredito, no entanto, que se deva ter respeito, não pelo gosto do outro, mas pelo trabalho de uma instituição séria como o Olodum, que realiza trabalhos sociais importantes em Salvador, que toca com os maiores artistas mundiais, que dá trabalho e escola aos moradores carentes de Salvador, ou seja, que exerce um papel e uma função social que muitas evzes as intituições que tem por obrigação fazê-los, não fazem. Mas quanto ao não gostar, é normal.
Sabemos que todo povo, todo ser humano, tem seus defeitos e que, normalmente, a cultura do outro causa estranheza a nós, mas este não é o caso do Professor Dantas. ele podia ter abordado nesta entrevista, por exemplo, que a UFBA trabalha em péssimas condiçõe sfísicas, que a faculdade de Medicina tem sérias dificuldades estruturais, de materias e etc, mas que mesmo assim seus alunos são reconhecidos mundialmente. Pesquisas importantes, de destaque nacional e mundial. Estudantes com reconhecimento por seus trabalhos. Falo, pois conheço muitas destas pessoas, ou, ao menos, já ouvi falar.
Generalizar é o maud a humanidade. A intolerância ao outro sempre foi causa dos grandes conflitos mundiais. O professor esqueceu ou não sabe disso.
Na minha humilde concepção de baiana com baixo QI, na concepção do senhor Dantas - que mesmo que seja Doutor, não merece tal título -, este senhor deve ter tido uma experiência infeliz na infância com algum coleguinha e um berimbau. Algum caso mal resolvido, algum trauma lá da época de 1914. Eu sendo parte deste corpo docente ou discente pegaria um berimbau e enfiaria lá "onde o sol não bate" para ele perceber o impacto de uma corda só.

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