Tinha um tempo em que acordava cedo nas férias para assistir Smurfs e comer nescau com leite.
Tinha um tempo em que tudo que queria era andar de bicicleta com os amigos até aprender a fazer as mais altas manobras.
Tinha um tempo em que meu maior objetivo era treinar para ser campeã de "elástico" na rua em que morava.
Tinha um tempo em que chocolate com refrigerante podiam ser meu almoço na escola.
Tinha um tempo em que para dirigir bastava que tivesse um disco nas mãos.
Tinha um tempo em que minha pilha de leituras eram os gibis da Turma da Mônica que chegavam pelo correio.
Tinha um tempo em que o máximo de raiva que sentia era quando meu irmão pegava o controle da TV e mudava o canal.
Tinha um tempo em que dormir mais tarde significava assistir a novela das oito.
Tinha um tempo em que minhas economias tinham objetivo de comprar aquela minissaia na vitrine.
Tinha um tempo em que beijo na boca era o máximo de proibido que eu conseguia pensar.
Tinha um tempo em que fita k7 era o limite de armazenamento da minha felicidade.
Tinha um tempo em que teclar F3 significava mexer a tartaruguinha na tela do computador e era a interação macro que eu estabelecia com a máquina.
Tinha um tempo em que o dedo no REC esperava tocar a música favorita no rádio.
Tinha um tempo em que esperava por Curtindo a Vida Adoidado e OS Goonies na Sessão da Tarde.
Tinha um tempo em que campeonato de baleado era minha Copa do Mundo.
Tinha um tempo em que a Paralela era um universo em descoberta.
Tinha um tempo em que emagrecer era perder uns gramas e deixar a calça bem apertada.
Tinha um tempo em que Legião Urbana e Red Hot Chili Peppers eram minhas doses diária de adrenalina.
Tinha um tempo em que minha maior perversidade era comer o recheio do biscoito alheio.
Tinha um tempo em que o carnaval era minha brincadeira favorita.
Tinha um tempo e esse tempo passou.
As memórias, contudo, parecem ser superiores ao tempo que passa.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
"Resistir, ser plural. Repartir o acúmulo"
Minhas últimas impressões diante
da vida têm sido como disco arranhado para meus amigos, e consiste
na constatação de que uma vida é muito pouco para tudo que a vida
merece.
Ando dizendo também que deve ser a
crise dos 30, o que me remete a outra constatação: sim, ela existe.
Muito provavelmente isso tudo, no
meu inconsciente consciente, está relacionado ao fato de resistir
aos obstáculos e de querer ser plural, repartindo o que acumulamos
ao longo dos anos. Fernando Anitelli e Daniel Santiago falam disso
brilhantemente em Da entrega.
Apoderar-se de si/Recombinando
atos/Não sou quem estou aqui! Sou o instante...passo
Tenho pensado que se chega em um
momento da vida em que o sujeito começa a tomar as rédeas da
bendita, não tentando segurar o tempo, mas ressignificando seu
pensar, redimensionando suas ações e refletindo que não somos só
aquele aqui e agora, somos efêmeros, instantâneos e nisso, a vida
- a danada - vai passando.
É nesse movimento que penso na
entrega. Entrega à vida.
Apoderar-se de si/Remediando
passos! Convergir no olhar nosso brio e fúria/Conceber,
conservar...a aguerrida entrega!
Tomar ciência de si, revendo os
caminhos e traçando novas trilhas é uma tarefa que requer entender,
assegurar, mas também violentamente se entregar ao novo e ao
diferente, ou o mesmo igual. Se pensarmos que o ontem, o agora e o
depois são a mesma coisa, como repete incansavelmente Anitelli,
perceberemos o quanto de nada sabemos e o quanto o planejar pode nos
trazer tantas surpresas. O quanto a entrega é necessária para a
vivência da vida, pois ela - a danada da vida - não merece ser
contemplada, mas vivida. O tempo de contemplação engole o tempo da
ação e como disse aqui,
o tempo não para e nem espera
Nesse nosso desbravar, emanemo-nos
amor!/Até quando suceder de silenciar...O que nos trouxe até aqui!
Nada melhor virá!
Ser um bandeirante da danadinha
parece ser uma condição em busca de evitar as crises, que podem ser
dos 30, dos 20, dos 50. Esse desbravamento, não tem jeito de ser
melhor se não for embebido de amor. Mas, sobretudo, amor por eles: a
vida danada, o tempo arteiro. Esse primeiro emanar de amor é
condição para todos os outros amores que surgem e surgirão. E como
surgem!
Apoderar-se de si/Remediando
passos!
Um viva ao ser múltiplo e plural
que somos e vamos descobrindo suas facetas ao longo do passar do
tempo, mesmo que isso gere crise. No meu caso, crise dos 30, talvez.
* Trechos em destaque da canção
Da entrega de Daniel Santiago e Fernando Anitelli gravada pelo O
teatro Mágico, meu eterno vício.
Etiquetas
Tempo; Pluralidade; O Teatro Mágico
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Tudo que eu gosto
Amigos, água gelada, alegria, amar
Brigadeiro de colher, beijo na boca, balão, brincar
Chocolate, carnaval, cinema, cantar
Dia de sol, dinheiro na conta, dormir, dançar
Escritos, entardecer, elástico na infância, encontrar
Família, férias, fim de semana, fantasiar
Games, ganache, gestação, gargalhar
Humor, homem, hoje, historiar
Irmandade, internet, inverno, imaginar
Janeiro, jantar a dois, jeans, jogar
Livros, loucura, liberdade, lar doce lar,
Música, melancia, mãe, mar
Namoro, nadar, noite, navegar
Otimismo, outono, orquídea, olhar
Pai, praia, primavera, postar
Queijo coalho, querer, quadrinhos, "quietar"
Rock, recadinho, rubronegro,"romancear"
Sexo, sexta-feira, saudade, sambar
Teatro, tesão, time do coração, trabalhar
Uva, união, ubiquidade, universalizar
Verão, Vitória, verdade, viajar
Xilogravura, xadrez, xará, xeretar
Zodíaco, zabumba, zanzar, zapear.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Sobre o tempo
O tempo é uma coisa esquisita, escorregadia e deliciosamente traiçoeira. Isso tudo porque ele passa e passa nos fazendo acreditar que ele não irá passar tão depressa. Engano, passa. Certeza, é uma delícia.
Cazuza já dizia que ele, o tempo, não para. Meu pai, que pouco tem de poeta, mas tem muito de filósofo, não cansou de me dizer que além de não parar, o tempo não espera. Não espera na esquina, na próxima rua, no parque mais próximo. Ele simplesmente corre rápido. Quantas vezes meu pai tentou me ensinar a aproveitar o que o tempo tinha de bom e o quão interessante era viver as coisas ao seu tempo? Uma contradição...Mas o que é a vida senão um punhado de contradições?
O tempo vai levando nossas vivências, nossas escolhas e, muitas vezes, não vivemos direito tudo que queremos com medo de que ele ande rápido demais. Outras vezes, não vivemos e, por vezes, vivemos demasiadamente de forma intensa. E ele sempre anda, ele sempre passa, deixando e apagando memórias.
O interessante é o que o tempo e sua rapidez fazem da memória um elemento gostoso para dimensioná-lo. Como é gostoso relembra, reviver, "retemporar".
Retemporar é voltar no tempo e sentir os gostos, os cheiros, as vontades, as dores, ainda que em lembrança, em memória. Retemporar é uma invenção minha para tentar segurar um pouquinho o tempo, pedir para ele me esperar. É desacelerar.
"Tempo, tempo, tempo, mano velho...seja legal, conto contigo".
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