domingo, 11 de dezembro de 2011

Carta a Noel

                                                                                                        Salvador, 11 de dezembro de 2011

Querido Papai Noel,

Há quem diga que o senhor não exista. Eu não consigo acreditar nisso. Até porque, no meu imaginário, sem a sua presença, o Natal não teria tanta graça.
Eu sinto sua presença anualmente, seja no Grupo Espírita Scheilla na festa de fim de ano, seja na ceia da minha família na noite do Natal, seja no Amigo Secreto do trabalho, ou ainda, no encontro familiar anual com minha melhor amiga.
Sim, o senhor existe e o melhor: se multiplica entre as pessoas de bem. É muito trabalho para um único bom velhinho. Se nós, seus companheiros de Jingle Bell, não fossemos tocados pela sua energia como conseguiríamos espalhar esse espírito natalino todo ano para tanta gente? No trabalho, na família, no condomínio?
Eu sei que pode parecer ironia, hipocrisia ou pieguice o fato de, muitas vezes, passarmos o ano discutindo, discordado, se aborrecendo e no final do ano nos abraçarmos e nos confratenizarmos. Mas, ainda bem que é assim, não é mesmo? Já pensou se fechássemos o ano sem trocar um pouco de energia positiva e espalhá-la entre os nossos e os próximos?
Ainda bem que o Natal e toda sua simbologia existem e que podemos uma vez no ano, ao menos, abraçar um colega, presentear quem toma conta da nossa casa, fazer caridade a quem precisa, reunir toda a família, agradecer pelo ano que tivemos e planejar o ano que virá. Que bom que, pelo menos, uma vez no ano a maior parte do mundo congrega esse tipo de energia.
Podiam ser todos os dias assim...podia não precisar de data específica como essa, mas o mundo ideal não existe. O que existe é a real vida que temos, vivemos e planejamos, ainda que de forma um pouco idealizada.
Assim, Papai Noel, eu queria agradecer por mais esse ano. Eu sei que sua figura deve ter muito contato com os Espíritos de Luz, com os Orixás, com Deus e com tantos outros seres e entidades do bem. Então, mesmo falando com cada um Deles, peço que intermedie esse muito obrigada. Foram tantas coisas boas que aconteceram este ano para mim...umas da dimensão da subjetividade, outras de realizações materiais, algumas da zona do sentimento. Preciso agradecer! Mas, para não fugir do estigma de filha pidona que sou, quero fazer uns pedidos também. Se me permitir, claro!
Eu queria muito, Papai Noel, ganhar neste Natal paciência, coragem e sabedoria. Acho que saber esperar é uma qualidade incrível. A gente sofre tão menos, não é mesmo? Pois, então, eu queria umas doses dessa tal de paciência a mais. Eu sei que já ganhei umas na aprendizagem com o Mestre e a Bruxinha, como postei aqui, mas ainda preciso de tanta! Não deve ser algo tão caro, não é?
Junto com a paciência, eu queria um pouco de coragem. Olhe, não precisa ser muitaaaa porque não ia combinar comigo. Sim, sim, a gente precisa ter clareza do que melhor nos cabe. Queria um pouco mais, tanto para algumas coisas da ordem do desejo, bem como para outras coisas da ordem da praticidade, como aprender a dirigir. Veja, Papai Noel, não estou pedindo muito...ou estou?
Como sou uma filha pidona e já me conscientizei dessa minha condição, gostaria de pedir sabedoria. Esse eu acho o mais difícil, pois precisa vim com uns acessórios de série, como a disciplina, a organização e a imersão. Sabe o que é, bom Noel? Eu tenho que escrever uma Tese de doutorado. No começo ela estava toda desenhada na minha cabeça, mas, como deve ser comum a todo processo criativo e de pesquisa, fui entrando em caminhos de muitas incertezas e desequílibrios com o que eu pensava, queria, sabia...E nisso, a Tese em vez de ir tomando corpo, foi ficando deformada. Eu preciso mudar esse cenário, meu Caro. Tenho um compromisso assumido, um objetivo e muitas razões. Por isso, aproveitei e coloquei esse pedido no pacote. Eu sei, sei que depende muito de mim, mas se eu puder ter uma ajuda extra não seria nada mau, não é mesmo?
Esses são os presentes que quero para mim, Noel. Sei que podem parecer muito, mas na minha auto-avaliação, penso que tenho esse crédito com o senhor...No entanto, reafirmando a condição que já lhe disse, tem umas coisas que eu queria pedir para os outros...São presentes que eu mesma gostaria de dar, mas não tenho como. Sabe aquele negócio de não ter bala na agulha? Pois!
Esses presentes iam ajudar muito o mundo em que a gente vive, Papai Noel e assim, seriam presentes que beneficiariam muita gente! O primeiro seria tentar acabar com a intolerância. Ixi! Sei que peguei pesado, que é um mega presente daqueles que a gente junta toda  por toda uma vida condições de dar...Mas, por isso que comecei com ele. Ele é a base de tudo, Noel.
As pessoas PRECISAM ser mais tolerantes. A intolerância de gênero, religiosa, de classe, de pensamentos acabam com as relações, destróem os espaços, matam os homens literalmente. Tudo seria tão mais fácil se as pessoas, ao menos, se respeitassem e tolerassem uns aos outros. O senhor não acha?
Tem um pensamento (eu usei até na minha dissertação de mestrado) que acho muito pertinente:
Respeitar a diferença não pode significar “deixar que o outro seja como eu sou” ou “deixar que o outro seja diferente de mim tal como eu sou diferente (do outro)”, mas deixar que o outro seja como eu não sou, deixar que ele seja esse outro que não pode ser eu, que eu não posso ser, que não pode ser um (outro) eu; significa deixar que o outro seja diferente, deixar ser uma diferença que não seja, em absoluto, diferença entre duas identidades, mas diferença da identidade, deixar ser uma outridade que não é outra “relativamente a mim” ou “relativamente ao mesmo”, mas que é absolutamente diferente, sem relação alguma com a identidade ou com a mesmidade (PARDO apud SILVA, 2000, p. 101).
Então, Papai Noel, não dá para fazer um pouquinho disso? O mundo seria tão melhor e evitaríamos tantas, tantas discórdias...Acho que com isso feito, a violência, a corrupção, a fome seriam bem menores, não? Se junto com isso, pudéssemos ofertar à humanidade uma segunda coisa, pronto: pacote feito! Vamos acabar com a desonestidade, meu bom velhinho? Eu sei, sei que a verdade dói, mas é uma dor que "bate e pronto" e, no final, faz  crescer, sabia? Então, no momento que as pessoas são mais verdadeiras, mentem menos e querem menos o que não é seu, o que acontece? Temos menos puxadas de tapete, temos menos brigas, temos menos desigualdades. Dá um trabalhão, tenho certeza, mas podíamos viver essa experiência...
Papai Noel, o senhor deve tá me achando utópica, mas o que seria de nós sem a utopia? Paulo Freire já dizia isso. Então, eu ainda quero me chocar muito e me indignar com as ações de intolerância e desonestidade. Isso prova que sou humana e não fui mutilada dos meus principios e valores. Mas, repito, se o senhor poder fazer o meio de campo e ajudar a diminuir isso ai...ia ser uma contribuição e tanto. Aposto que nos próximos anos os pedidos para o senhor até diminuiriam, sabia? Pensa nisso como investimento, Noel!
Pois é, bom velhinho, é isso. Sei que o Natal está bem perto e providenciar todos esses meus pedidos a tempo de recebermos no dia 24 ou 25 de dezembro seria muito difícil, mas, não custa pedir ou tentar, não é mesmo? Aquela velha história de já ter o não e correr atrás do sim!
Eu espero que seu trabalho, meu caro, seja deliciosamente gratificante e que a humanidade não perca a possibilidade de acreditar, pois só assim é possível fazer. E eu espero, obviamente, que meus pedidos cheguem em tempo e sejam atendidos, ainda que gradativamente.

Um abraço bem apertado, Querido Papai Noel e um Feliz Natal!