domingo, 29 de janeiro de 2012

Terceira parte - Do ensino médio e de como me tornei educadora


O ensino médio foi a melhor experiência educacional da minha vida, mais do que a universidade. Reencontrei os amigos e os professores e fiz novos amigos-colegas e amigos-professores e decidi o que queria estudar no nível superior: DIREITO. Mas, como diz uma grande amiga minha: ‘apenas pensamos que decidimos algo em nossa vida, mas, de fato, pouco decidimos’.
No terceiro ano do ensino médio, em meio aos preparativos para o tão esperado vestibular, descubro que estou grávida daquele que foi meu namorado desde a infância. Choque na família. Choque na escola. E agora? E o vestibular? Ainda com medo e receio, resisti, conclui o terceiro ano e me inscrevi para Direito na UFBA e havia que escolher outro curso na UNEB, pois meu pai dizia a velha máxima de que: ‘pagando escola particular, não havia necessidade de pagar faculdade privada”.
Em 03 de agosto de 1999 nasce meu primeiro e único filho: Mateus. Razão da minha vida, motivo da minha força, minha mola propulsora. Foi quem permitiu que sendo mãe solteira, adolescente, estudante e vivendo de bicos, quisesse sempre mais. Agora não só por mim, mas por ele, principalmente.
            Educação nem sempre foi uma paixão. Não foi minha primeira opção profissional, nem um desejo. Não a escolhi. Ela me escolheu. Na dúvida em que curso escolher na UNEB, optei pelo de menor concorrência na época: uni duni tê: PEDAGOGIA. Logo após, saiu a classificação real daquele, já que a inscrição é feita baseada na concorrência do ano anterior. Era o boom da nova LDB: todo mundo em busca do título superior. A concorrência que era de 7 para 1, subiu para 74 para 1. Quase desisto. Meu pai achava um absurdo formar uma filha pedagoga, queria mais uma advogada, mas isso foi por pouco tempo. Logo, ele também, se apaixonou.
            Os amigos conveceram-me a fazer a prova. PASSEI!!! Vou ter uma profissão! O curso era gratuito, perto da minha casa, o que facilitaria cuidar do meu pequeno Mateus, ou seja, estudar Pedagogia na UNEB tinha se tornado meu maior objetivo para aquele ano. Em 2000 fui selecionada no Processo Seletivo desta Instituição. E desta forma comecei a dar meus primeiros passos em Educação.
            Não foi fácil. Desisti no segundo semestre, trancando as disciplinas. Os olhos de minha mãe esperançosos, sem saber que havia trancado, me fizeram voltar. O que me fez permanecer, foram duas situações;  Durante o curso fui buscando apropriar-me de conceitos específicos da área, bem como, das possibilidades de atuação em Pedagogia. Nascia outro anseio, o de pesquisar. Em julho de 2001 participei da 53ª Reunião Anual da SBPC, realizada na Universidade Federal da Bahia, com o objetivo de mergulhar ainda mais neste mar de conhecimento, ainda não tão desvendado por mim. Participei de alguns cursos, seminários, que me aproximavam ainda mais da prática docente. Era tudo novo e tudo deliciosamente esperançoso, possível de sonhar e idealizar. Sou pisciana, afinal.
Foi movida por este desejo, que iniciei minha busca por vagas em escolas da rede privada de Salvador no intuito de colocar em prática os conhecimentos e teorias aprendidos na Universidade e nos encontros acadêmicos dos quais participei. Um trabalho de formiga. Peguei o catálogo telefônico e fui ligando para as escolas que ‘vendiam’ propostas pedagógicas das quais eu simpatizava, pois ainda não as conhecia, estava no terceiro semestre. Oferecia minha mão de obra, em troca de aprendizagem e, pelo menos, o dinheiro da passagem... Depois de muitos nãos, encontrei uma porta, uma brecha, uma luz.
Era uma escola inclusiva, trabalhando na perspectiva sócio-interacionista com poucas crianças no Imbuí. Disse: pronto! É aqui que quero aprender! Em outubro de 2001 “inaugurei” o Programa de Estágio da Creche – Escola Espaço Construir. Digo inaugurei, pois na época propus a diretora da escola, Jenilda Vasconcelos, que me desse à oportunidade de estagiar naquela Unidade por um período de um mês afim de que pudesse perceber a realidade prática da sala de aula. Ela então topou o desafio e a experiência se estendeu por dois meses. 
O ano acabou e a escola com poucos recursos ficava teimerosa em me manter lá, pois eu ia diariamente e recebia apenas cento e vinte reais para custear o transporte e quiçá um lanche. Percebendo isso e sabendo que estando no terceiro semestre pouca coisa me seria oferecida, inscrevi-me no IEL em busca de estágio formal. No mesmo período em que saia da Espaço Construir, a Tempo de Crescer me convidava para estagiar lá com eles, assumindo uma turma de dois anos: um crime, mas uma aventura. A vivência na Espaço foi a responsável pelo meu encantamento por Educação Infantil e pelo respeito que tenho por esta escola, tanto que meu filho cursou Educação Infantil na Espaço Construir após a minha saída.
            Permaneci na Tempo por dois anos, até o fim da graduação. No período da Tempo minha vida mudou, casei, encontrei meu amor e foi lá que construí minha base docente. Tudo que aprendi que se deve e não se deve fazer em sala de aula aprendi lá.
Tinha encontrado na educação um motivo de felicidade que me permitia ser artista, mesmo sem os talentos de uma. Colocava para fora na educação infantil minha veia artística silenciada pela timidez, aparente apenas raras vezes para amigos.
Tive duas amigas de vida, maravilhosas e experientes, que me ensinaram práxis docente mais que qualquer professor na Universidade. Uma alfabetizadora, outra arte-educadora. Tive, mesmo tendo meu trabalho explorado, pois era docente, mas recebia como estagiária, as melhores aulas práticas da minha história docente. Ana Carla e Nilza me ensinavam a cada dia uma nova coisa e formamos um trio poderoso na escola, de sucesso e muito trabalho
Neste mesmo período, participei como aluna ouvinte, a convite do Professor º Arnaud Lima Júnior, da disciplina Psicologia Cognitiva – uma abordagem ecológica (ministrada pela Prof.ª Lynn Alves) no curso de Especialização em Educação e Tecnologia da Comunicação e Informação na UNEB. Durante esta experiência conheci outra possibilidade de trabalhar educação, aliando-a a comunicação. Era um campo teórico novo para mim, porém sedutor, confirmando-se mais tarde como minha escolha enquanto objeto de estudo.
Durante o tempo que permaneci na Tempo de Crescer, participei de duas Jornadas Internacionais de Educação, a primeira em 2002 e a segunda em 2003. As Jornadas foram espaços importantes de reflexão da minha prática docente, bem como, o momento de conhecer autores importantes de Educação e de troca de experiências com outros professores de realidades distintas e próximas à minha.
Era uma formação teórica na universidade e um mar abundante de práxis na Tempo: desafios e problemas constantes a serem solucionados. Era o sofrimento mais prazeroso que existia. Quando me formei a escola me dispensou. Desejavam conter custos e não mantinham todas as professoras graduadas no quadro. Apenas algumas, as outras vagas eram preenchidas com estagiárias de custo mais baixo. Eu era a mais recente contratada, pois conclui o curso antes do final do ano e, portanto, a primeira a ser demitida.
Assim, em 2003 conclui o curso de Pedagogia. A UNEB deixou saudades, mas eu sabia que não daria tchau, mas até logo. Carreguei comigo uma amiga, minha parceira teórica, madrinha de meu filho, Janaína, que dividia comigo as angústias da Educação e os sonhos de mudança.

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