Ansiedade sempre foi a
melhor palavra para me definir. Não que eu não seja outras coisas,
mas sempre achei que o que mais sou na vida é ansiosa. Isso é
péssimo, mas assim sou. No entanto, tudo muda o tempo todo no mundo, já
dizia o poeta. E é assim também com essa história.
Era uma vez Eu que
adentrava o mundo encantado do IBB (o Benajmin Button mesmo) e,
especialmente, era mandada por soldados para um Reino Tão Distante.
Lá eu reencontrei um amigo, afinal, amigos são assim: aparecem
quando a gente mais precisa. Esse amigo era um ser pequeno, filho de
Jorge – o Mestre dos Magos – e me ensinou ( e o fez como todo
filósofo o faria) que ansiar faz apenas com que criemos rugas.
O pequeno Mestre dos
Magos, filósofo por mais que diga que não, com paciência de Jó,
aguentava minhas segundas, terças e quartas-feiras de mau-humor e
ansiedade. Me ensinou a arte da espera com filosofias, cantos e
histórias entre a moscantina e os passeios no bosque, regados a
contos e risos num banquinho em baixo das árvores: a como ficar fora
da sala da justiça, a tornar quarta-feira o melhor dia da semana, a
entender que a força do universo, a suprema, faz as coisas que
achamos que não podemos fazer.
Assim, toda quarta
virou santa e a segunda um caminho necessário. Num reino com tantos
elfos, pseudofadas e monstros horripilantes, uma segunda e uma terça
não podiam fazer tão mal assim...
Meu Mestre dos Magos,
tal como em Caverna do Dragão, aparecia quando eu mais precisava e
desaparecia da mesma forma, fosse por uma derrela, um repente ou uma
sumida estratégica. O fato é que sempre que eu pensava, como num
passe de mágica – típico dos reinos encantados –, lá estava
ele: serelepe, faceiro, sempre com um rebolation pronto para me tirar
um riso, ou uma mão estendida para me apresentar moscas ainda
desconhecidas ou cactos que estavam lá o tempo todo, mas meus olhos
não viam.
Um dia, no Reino Tão
Distante, nem fadas, nem elfos, nem monstros. Uma Bruxa aparece, com
direito a sinal na testa e tudo mais. Uma Bruxa e um convite. Quem aceitaria
convite de bruxa?!!
Uma fala
firme, uma voz rouca... mas eu nunca tive medo de bruxa. Alías, eu
acho que sou uma delas. As bruxas fazem parte do imaginário coletivo
como seres malvados, perversos que querem nos engolir. No meu
imaginário as bruxas têm outra representação. Talvez por conta
das leituras incessantes de “A bruxinha que era boa”, ou talvez
por, como já disse, eu ser uma delas.
As bruxas são mulheres
fortes, sem a beleza angelical das fadinhas. Eu sempre duvido da
totalidade angelical dos seres, sobretudo no Reino Encantado e no
Reino Tão Distante. A força pode combinar com a leveza e a doçura,
mas anjos só existem anonimamente como nossos protetores, dependem,
então, da fé para existirem. As fadas estão fadadas a monotonia da
mesmice e da vida nos Reinos encantados longíquos. Sempre preferi
bruxas às fadas, sobretudo as pseudofadas como as do Reino Tão
Distante.
Eu esperava por um
outro Reino. Não sabia se era melhor ou pior, queria viver emoções
diferentes ao menos, e na esperança de todos os dias virarem santos
e não apenas às quartas, aceitei a maçã nada envenenada da Bruxinha
que, em forma de convite, me levava para o desconhecido.
E agora?! Teria que
deixar meu Mestre dos Magos entregue aos elfos, monstros e
pseudofadas. Logo ele que esteve comigo todas as segundas, terças e
quartas pacientemente me ensinando a controlar a ansiedade? Mas, ele
– o Mestre – tinha razão...nós não sabemos o que o universo
nos reserva. Ele dizia que as pessoas guerreiras sempre conseguiam
chegar lá, mesmo que não soubessem onde é esse lá.
Mas, como podia eu ser
guerreira, se muitas vezes ele era meu escudo e minha espada? Como
lutar sem armas? Como ele lutaria ainda com sabedoria se eu e meu
mau humor estaríamos em um Reino Encantado próximo do mar? Eu havia
aprendido a servir de escudo e espada também...
Um Reino Tão Distante
ficava para trás e um Reino Encantado que tinha um Rei de verdade me
esperava. Um Reino perto do mar. O mar aproxima os povos, os amigos e inimigos, por isso as
muralhas dos Reinos litorâneos precisam ser fortes. A minha bruxa me
levava para esse Reino e sua muralha parecia me proteger. Eu gostava
disso...
E não é que agora
além de um Mestre dos Magos (que óbvio aparece mutias vezes para
mim, assim como aquele de Caverna do Dragão) eu tinha uma Bruxa de
verdade?
A Bruxa sabe das
coisas, vê as coisas, conhece as pessoas e protege gente ansiosa
como eu. A Bruxinha continuava os ensinamentos do mágico: controlar
a ansiedade, ter paciência, a não se encantar com os risinhos das
fadas e a saber ficar de fora da sala da justiça.
Será que a Bruxinha e
o Mestre se conhecem? Será que foram colocados no meu caminho para
aprender a conviver com Reis e monstros com a mesma sabedoria que
eles o fazem?
Não sei...o que eu sei
é que graças ao Mestre dos Magos e a Bruxinha eu sou menos ansiosa
hoje e vi que as coisas acontecem quando têm que acontecer.
Mesmo que elfos, fadas e monstros não queiram, quando o Universo conspira não tem jeito, a gente começa a chegar lá.
Mesmo que elfos, fadas e monstros não queiram, quando o Universo conspira não tem jeito, a gente começa a chegar lá.
E o final feliz...esse
demora!
2 comentários:
O Mestre dos Magos, cada vez menos sábio, cada vez menos mestre vive, ainda no Reino Tão Distante... As pseudofadas e os elfos estão, cada vez mais humanos e sem magia... Ainda existem as segundas e as quartas; as moscas e os bosques, os bancos e os cactos.. o Mestre está cansado. ÀS vezes triste, porém, sempre confiante; talvez, mais maduro: ora, um tapete puxado aqui, ora, um outro voador que o leva para comer pão de queijo ou dançar frevo. A vida segue e ele não faz tão mais parte do Reino. Conseguiu sair do imaginário que criaram para ele. Admira, contudo, a Bruxinha, guerreira e dandada que, agora com um toque de pimenta, trilha os caminhos do mar. Porém, ele sabe da fidelidade que os une; ele sabe dos verdadeiros valores que jamais sucumbirão à vontade de Reis. Sonha com vidas novas, mas faz dos dias, que querem ser velhos, sempre novos, tal como a gota de orvalho sobre os espinhos do mandacaru. Vive com a alegria do amanhecer e das madrugadas. Acredita sempre no acreditar. Adora o impossível e crê que a vida é, de fato, mágica... Está profundamente emocionado pelas palavras descritas pela bruxinha e, extremamente, comovido, sensível, "corado", agradecido e não tinha a noção de ser tudo o que foi dito... Ele, o Mestre, diante de tudo o que vê e prevê, sente-se, cada vez mais, aprendiz. Aprendiz de bruxinhas. Aprendiz de babuínas e da simplicidade onde reside o verdadeiro portal para aquilo no qual acredita piamente: a liberdade! Vida longa à bruxinha... Maçãs vermelhas e coloridas recheadas de sonhos e de vida! O Mestre, por enquanto, está aqui... Porém, como ele sempre some e aparece, não sabe até quando...
rsrsrs, tiii fofo. love you!!!!
mas errou a bruxinhaaa rs.
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