quinta-feira, 29 de setembro de 2011

"Resistir, ser plural. Repartir o acúmulo"

Minhas últimas impressões diante da vida têm sido como disco arranhado para meus amigos, e consiste na constatação de que uma vida é muito pouco para tudo que a vida merece.
Ando dizendo também que deve ser a crise dos 30, o que me remete a outra constatação: sim, ela existe.
Muito provavelmente isso tudo, no meu inconsciente consciente, está relacionado ao fato de resistir aos obstáculos e de querer ser plural, repartindo o que acumulamos ao longo dos anos. Fernando Anitelli e Daniel Santiago falam disso brilhantemente em Da entrega.
Apoderar-se de si/Recombinando atos/Não sou quem estou aqui! Sou o instante...passo
Tenho pensado que se chega em um momento da vida em que o sujeito começa a tomar as rédeas da bendita, não tentando segurar o tempo, mas ressignificando seu pensar, redimensionando suas ações e refletindo que não somos só aquele aqui e agora, somos efêmeros, instantâneos e nisso, a vida  - a danada - vai passando. 
É nesse movimento que penso na entrega. Entrega à vida.
Apoderar-se de si/Remediando passos! Convergir no olhar nosso brio e fúria/Conceber, conservar...a aguerrida entrega!
Tomar ciência de si, revendo os caminhos e traçando novas trilhas é uma tarefa que requer entender, assegurar, mas também violentamente se entregar ao novo e ao diferente, ou o mesmo igual. Se pensarmos que o ontem, o agora e o depois são a mesma coisa, como repete incansavelmente Anitelli, perceberemos o quanto de nada sabemos e o quanto o planejar pode nos trazer tantas surpresas. O quanto a entrega é necessária para a vivência da vida, pois ela - a danada da vida - não merece ser contemplada, mas vivida. O tempo de contemplação engole o tempo da ação e como disse aqui, o tempo não para e nem espera
Nesse nosso desbravar, emanemo-nos amor!/Até quando suceder de silenciar...O que nos trouxe até aqui! Nada melhor virá!
Ser um bandeirante da danadinha parece ser uma condição em busca de evitar as crises, que podem ser dos 30, dos 20, dos 50. Esse desbravamento, não tem jeito de ser melhor se não for embebido de amor. Mas, sobretudo, amor por eles: a vida danada, o tempo arteiro. Esse primeiro emanar de amor é condição para todos os outros amores que surgem e surgirão. E como surgem!
Apoderar-se de si/Remediando passos!
Um viva ao ser múltiplo e plural que somos e vamos descobrindo suas facetas ao longo do passar do tempo, mesmo que isso gere crise. No meu caso, crise dos 30, talvez.



* Trechos em destaque da canção Da entrega de Daniel Santiago e Fernando Anitelli gravada pelo O teatro Mágico, meu eterno vício.

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