Estou na labuta para a escrita da tese e no meio desse trabalho, venho resgatando o que produzi nas disicplinas do Doutorado. Uma delas, Educação, Sociedade e Práxis, teve como uma das atividades a escrita de um memorial sobre a vida do aluno, na perspectiva de pensar sua trajetória acadêmica e sua relação com a educação desde os primórdios. Foi uma delícia fazer e, agora revendo, resolvi compartilhar aqui no blog. Como é muito extenso, farei em partes.
PARTE I
Nasci na
Bahia de Todos os Santos, na cidade de São Salvador, regida sob o signo de
peixes, em um sábado de carnaval. Nasci sem ser planejada, mas já no ventre de
minha mãe Dilmara, técnica em contabilidade, e nos pensamentos de meu pai, João
Batista, vendedor, havia um sentimento de amor por aquele bebezinho que até
então chamavam de Joãozinho. Como não queriam saber o sexo, mas apenas da saúde
do ser que iria nascer, deixaram para decidir tudo em relação a mim, quando
olhassem para os meus olhos.
E foi
assim que, em 20 de fevereiro de 1982, no Hospital Jorge Valente, após um dia
de praia, programa preferido dos meus pais, cheguei ao mundo, ainda sem nome,
padrinhos ou enxoval de menina, coisas comuns à maioria das famílias católicas.
Não a minha.



Aos três
anos de idade, minha mãe que precisava voltar a trabalhar, pois havia parado
para cuidar de mim integralmente, colocou-me na minha primeira escola:
Educandário Carlos Chagas. Era uma escola pequena, no bairro em que morei a
vida quase toda, Cabula. A escola era bem pequena: algumas poucas salas e um
parquinho apenas. Foi lá que aprendi a ler, aos cinco anos, no antigo Jardim II
com a Pró Olga, recordo-me dela até hoje.
Eu era
muito envergonhada e meu maior martírio era fazer parte das apresentações na
escola. Recusava-me simplesmente, ou ficava com cara de boba, escondendo-me
atrás de qualquer coisa ou pessoa que fosse maior que eu. Isso demorou a
passar.
Aos seis
anos, quando ia começar a alfabetização, meus pais me mudaram de escola. Fui
para o Parque da Criança. Uma escola um pouco maior do que a anterior e de
propriedade da esposa de um colega de trabalho de meu pai, coincidentemente,
ela, Zilmar, havia sido colega de escola da minha mãe na escola Parque, a
idealizada por Anísio Teixeira.
Estudei
no Parque da Criança durante todo o ensino fundamental. A escola tinha e tem
ainda hoje uma linha tradicional de ensino e regras bem rígidas. Custo a
acreditar como eu adorava a cartilha, a caligrafia e a tabuada. Mas adorava.
Lembro desse sentimento como sendo hoje. Lembro que era uma das poucas que já
entrou na alfabetização alfabetizada, mérito da Pró Olga. E adorava me exibir
lendo as lições do SAPO, do PATO – as que mais me lembro – na Cartilha. Era
motivo de orgulho, não ficar retida em nenhuma lição e completar logo a
cartilha.

Os anos
seguintes correram de forma muito parecida, alguns professores bem rígidos,
chateados com a vida, e sempre cobrando muito dos alunos. Às vezes penso em
agradecê-los, outras em perguntar por que não tornavam este momento ainda mais
especial. Como toda regra tem exceção, com essa não seria diferente. A
professora Gecilda, da segunda série, rompia com todas essas práticas. As aulas
dela eram divertidas, ousadas e criativas. Ela nos dava autonomia e nos cobrava
responsabilidade. Desafiava-nos e, consequentemente, as desafiávamos. Tanto a
turma e os pais insistiram que ela foi nossa professora no ano seguinte. Devo a
ela a maioria das coisas que aprendi no ensino fundamental. Já lhe disse isso
pessoalmente, pois já a encontrei diversas vezes em cursos de formação, visto que
anos depois nos tornamos colegas da rede municipal de ensino... mas isso é
outra história...

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