O ensino médio foi a melhor experiência
educacional da minha vida, mais do que a universidade. Reencontrei os amigos e
os professores e fiz novos amigos-colegas e amigos-professores e decidi o que
queria estudar no nível superior: DIREITO. Mas, como diz uma grande amiga
minha: ‘apenas pensamos que decidimos algo em nossa vida, mas, de fato, pouco
decidimos’.
No terceiro ano do ensino médio, em meio
aos preparativos para o tão esperado vestibular, descubro que estou grávida
daquele que foi meu namorado desde a infância. Choque na família. Choque na
escola. E agora? E o vestibular? Ainda com medo e receio, resisti, conclui o
terceiro ano e me inscrevi para Direito na UFBA e havia que escolher outro
curso na UNEB, pois meu pai dizia a velha máxima de que: ‘pagando escola
particular, não havia necessidade de pagar faculdade privada”.

Educação
nem sempre foi uma paixão. Não foi minha primeira opção profissional, nem um
desejo. Não a escolhi. Ela me escolheu. Na dúvida em que curso escolher na
UNEB, optei pelo de menor concorrência na época: uni duni tê: PEDAGOGIA. Logo após, saiu a classificação real daquele,
já que a inscrição é feita baseada na concorrência do ano anterior. Era o boom da nova LDB: todo mundo em busca do
título superior. A concorrência que era de 7 para 1, subiu para 74 para 1.
Quase desisto. Meu pai achava um absurdo formar uma filha pedagoga, queria mais
uma advogada, mas isso foi por pouco tempo. Logo, ele também, se apaixonou.
Os
amigos conveceram-me a fazer a prova. PASSEI!!! Vou ter uma profissão! O curso
era gratuito, perto da minha casa, o que facilitaria cuidar do meu pequeno
Mateus, ou seja, estudar Pedagogia na UNEB tinha se tornado meu maior objetivo
para aquele ano. Em 2000 fui selecionada no Processo Seletivo desta
Instituição. E desta forma comecei a dar meus primeiros passos em Educação.
Não
foi fácil. Desisti no segundo semestre, trancando as disciplinas. Os olhos de
minha mãe esperançosos, sem saber que havia trancado, me fizeram voltar. O que
me fez permanecer, foram duas situações; Durante
o curso fui buscando apropriar-me de conceitos específicos da área, bem como,
das possibilidades de atuação em Pedagogia. Nascia outro anseio, o de pesquisar.
Em julho de 2001 participei da 53ª Reunião Anual da SBPC, realizada na
Universidade Federal da Bahia, com o objetivo de mergulhar ainda mais neste mar
de conhecimento, ainda não tão desvendado por mim. Participei de alguns cursos,
seminários, que me aproximavam ainda mais da prática docente. Era tudo novo e
tudo deliciosamente esperançoso, possível de sonhar e idealizar. Sou pisciana,
afinal.
Foi movida por este desejo, que iniciei
minha busca por vagas em escolas da rede privada de Salvador no intuito de
colocar em prática os conhecimentos e teorias aprendidos na Universidade e nos
encontros acadêmicos dos quais participei. Um trabalho de formiga. Peguei o
catálogo telefônico e fui ligando para as escolas que ‘vendiam’ propostas
pedagógicas das quais eu simpatizava, pois ainda não as conhecia, estava no
terceiro semestre. Oferecia minha mão de obra, em troca de aprendizagem e, pelo
menos, o dinheiro da passagem... Depois de muitos nãos, encontrei uma porta,
uma brecha, uma luz.
Era uma escola inclusiva, trabalhando na
perspectiva sócio-interacionista com poucas crianças no Imbuí. Disse: pronto! É
aqui que quero aprender! Em outubro de 2001 “inaugurei” o Programa de Estágio
da Creche – Escola Espaço Construir. Digo inaugurei, pois na época propus a
diretora da escola, Jenilda Vasconcelos, que me desse à oportunidade de
estagiar naquela Unidade por um período de um mês afim de que pudesse perceber
a realidade prática da sala de aula. Ela então topou o desafio e a experiência
se estendeu por dois meses.
O ano acabou e a escola com poucos recursos ficava teimerosa
em me manter lá, pois eu ia diariamente e recebia apenas cento e vinte reais
para custear o transporte e quiçá um lanche. Percebendo isso e sabendo que
estando no terceiro semestre pouca coisa me seria oferecida, inscrevi-me no IEL
em busca de estágio formal. No mesmo período em que saia da Espaço Construir, a
Tempo de Crescer me convidava para estagiar lá com eles, assumindo uma turma de
dois anos: um crime, mas uma aventura. A vivência na Espaço foi a responsável
pelo meu encantamento por Educação Infantil e pelo respeito que tenho por esta
escola, tanto que meu filho cursou Educação Infantil na Espaço Construir após a
minha saída.

Tinha encontrado na educação um motivo de felicidade
que me permitia ser artista, mesmo sem os talentos de uma. Colocava para fora
na educação infantil minha veia artística silenciada pela timidez, aparente
apenas raras vezes para amigos.
Tive duas amigas de vida, maravilhosas e
experientes, que me ensinaram práxis docente mais que qualquer professor na
Universidade. Uma alfabetizadora, outra arte-educadora. Tive, mesmo tendo meu
trabalho explorado, pois era docente, mas recebia como estagiária, as melhores
aulas práticas da minha história docente. Ana Carla e Nilza me ensinavam a cada
dia uma nova coisa e formamos um trio poderoso na escola, de sucesso e muito
trabalho
Neste mesmo período, participei como
aluna ouvinte, a convite do Professor º Arnaud Lima Júnior, da disciplina
Psicologia Cognitiva – uma abordagem ecológica (ministrada pela Prof.ª Lynn
Alves) no curso de Especialização em Educação e Tecnologia da Comunicação e Informação
na UNEB. Durante esta experiência conheci outra possibilidade de trabalhar
educação, aliando-a a comunicação. Era um campo teórico novo para mim, porém
sedutor, confirmando-se mais tarde como minha escolha enquanto objeto de
estudo.
Durante o tempo que permaneci na Tempo de
Crescer, participei de duas Jornadas Internacionais de Educação, a primeira em
2002 e a segunda em 2003. As Jornadas foram espaços importantes de reflexão da
minha prática docente, bem como, o momento de conhecer autores importantes de
Educação e de troca de experiências com outros professores de realidades
distintas e próximas à minha.
Era uma formação teórica na universidade
e um mar abundante de práxis na Tempo: desafios e problemas constantes a serem
solucionados. Era o sofrimento mais prazeroso que existia. Quando me formei a
escola me dispensou. Desejavam conter custos e não mantinham todas as
professoras graduadas no quadro. Apenas algumas, as outras vagas eram
preenchidas com estagiárias de custo mais baixo. Eu era a mais recente
contratada, pois conclui o curso antes do final do ano e, portanto, a primeira
a ser demitida.
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